Código-fonte que deu início à Microsoft: o legado de Bill Gates
- Nome Desconhecido
- 25 de out.
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No início de abril de 2025, em seu blog pessoal, Bill Gates publicou algo que para muitos passou quase despercebido — mas que, em retrospectiva, representa um marco para a história da computação: o código-fonte original do programa que viria a se tornar o primeiro produto da Microsoft.
O contexto histórico
Em janeiro de 1975, a capa de uma revista especializada mostrava o microcomputador kit Altair 8800 — um dispositivo para entusiastas de hardware que, até então, representava o vislumbre de uma “computação pessoal”.
Gates e seu amigo de longa data, Paul Allen — então jovens e cheios de ideias — viram ali uma oportunidade: criar software que permitisse ao Altair executar programas escritos na linguagem BASIC, uma linguagem que era considerada fácil de aprender.
O curioso: na época, eles ainda não tinham desenvolvido o software. Mesmo assim, apresentaram-se à empresa fabricante (MITS) com a promessa de entregar um interpretador de BASIC para o Altair.
Durante cerca de dois meses — sem possuir forçosamente o hardware alvo — trabalharam intensivamente para criar o interpretador para o processador Intel 8080, simulando o ambiente num mainframe PDP-10 para emular o Altair.
O código-fonte e o que foi divulgado
O artefato compartilhado é um arquivo PDF de 157 páginas que documenta o código-fonte original do interpretador BASIC para o Altair, escrito em linguagem assembly para o processador Intel 8080.
Gates o descreveu como “o código mais legal que já escrevi” (“the coolest code I’ve ever written”).
Além disso, outro momento relevante: em setembro de 2025, a Microsoft anunciou a abertura oficial do código-fonte do seu interpretador BASIC para o processador MOS 6502 — uma versão de 1978 adaptada para computadores como o Commodore 64 — sob licença open-source.
Por que isso importa?
Fundação de uma gigante
Aquele código-fonte não era apenas um exercício de programação: foi o primeiro produto comercial da Microsoft (inicialmente chamada “Micro-Soft”) — e, segundo Gates, aquele pedaço de código “levou meio século de inovação”.
Revolução da computação pessoal
Num momento em que computadores pessoais eram praticamente inexistentes, aquilo oferecia aos entusiastas de hardware e software uma porta de entrada: escrever comandos simples, ver o computador responder. Como Gates e Allen acreditavam, software seria um dos motores da revolução.
Transparência histórica
A disponibilização desse código oferece aos historiadores da computação, hobistas retrô e curiosos a chance de examinar “ao vivo” um artefato técnico que era até então quase lendário. Ver os comentários em assembly, as estratégias de otimização para hardware limitado — revela muito sobre o jeito pioneiro de se programar em meados dos anos 70.
É fascinante imaginar: com poucos recursos de hardware, sem frameworks, sem IDEs modernas, Gates, Allen e colaboradores entregaram um interpretador em assembly para um computador que até então nem existia em grande escala. A audácia, o espírito experimental e o contexto de “start-up” dos anos 70 fazem deste trecho de código um documento histórico.
Há também uma certa humildade no gesto de Gates: reconhecer que aquilo foi o começo, convidar quem quiser a “ver como era”. Isso humaniza uma figura frequentemente associada apenas a impérios de tecnologia ou filantropia global.
Para quem se interessa por tecnologia, empreendedorismo, ou pela história da computação, o arquivo é uma porta de entrada para entender de onde tudo começou — com linhas e linhas de assembly, e um sonho de “um computador em cada mesa e em cada casa”, como Gates e Allen imaginaram.



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